Genética e Arritmia Cardíaca

Genética e Arritmia Cardíaca

Existem muitas doenças cardíacas determinadas geneticamente, com ou sem patologia estrutural, que predispõem a arritmias. Estas doenças são, sobretudo, o resultado de anormalidades na codificação genética de três grandes famílias de proteínas: as sarcoméricas, que respondem pelo inotropismo e se relacionam à cardiomiopatia hipertrófica; as proteínas do citoesqueleto, responsáveis pela transmissão de forças entre células vizinhas e cujas anormalidades estão ligadas à cardiomiopatia dilatada; e as proteínas que codificam os canais iônicos, responsáveis pela manutenção do equilíbrio iônico intra e extracelular, que podem ocasionar as arritmias familiares.

Alterações dos Canais Iônicos

Uma atividade cardíaca coordenada e eficaz necessita de vários elementos, como os canais iônicos, correntes iônicas e proteínas estruturais. A análise funcional dos canais iônicos tem permitido compreender melhor a arritmogênese, mas apenas o desenvolvimento da genética e o descobrimento das mutações causadoras das doenças familiares permitem aplicar a ciência básica na prática clínica.

Síndrome do QT Longo Congênito

A síndrome do QT longo é caracterizada por síncopes, arritmias ventriculares malignas e aumento do intervalo QT. Ela pode ser adquirida ou congênita, sendo a forma congênita dividida em dois padrões: autossômica recessiva e autossômica dominante. Mutações em genes específicos, como o SCNCA e KVLQT1, podem alterar a formação de proteínas, resultando em diferenças de potencial no miocárdio, o que pode causar arritmias.

Terapia Genética

Bloqueadores de canais de sódio e potássio têm sido testados para melhorar as condições de pacientes com mutações genéticas. Embora esses tratamentos ainda não tenham demonstrado impacto na mortalidade, eles apontam para soluções futuras baseadas em terapias genéticas.

Síndrome de Brugada

Descrita pela primeira vez em 1992, a síndrome de Brugada é caracterizada por bloqueio de ramo direito e elevação do segmento ST nas derivações V1 a V3. A causa mais comum de morte súbita nesses pacientes é a taquicardia ventricular polimórfica e fibrilação ventricular. Mutação no gene SCN5A é uma das causas identificadas da síndrome, que tem padrão autossômico dominante.

Taquicardia Polimórfica Ventricular Familiar

A taquicardia ventricular polimórfica familiar é uma doença autossômica dominante, com alta mortalidade em jovens, caracterizada por arritmias induzidas por esforço físico. Está associada à disfunção do receptor da rianodina, uma proteína que regula o cálcio no miocárdio.

Fibrilação Atrial e Alterações dos Canais Iônicos

A fibrilação atrial é um distúrbio de condução elétrica que pode resultar em uma atividade caótica no coração. Estudos sugerem que a fibrilação atrial pode ter uma base genética, com mutações que afetam os canais iônicos, como KVLQT1, alterando o potencial de ação cardíaco.

A identificação de novas famílias e estudos genéticos permitem deduzir que a fibrilação atrial pode ser uma doença heterogênea, causada por mais de um gene.

Estamos apenas no início da descoberta dos mecanismos genéticos que causam as doenças cardíacas hereditárias. Com a evolução da genética e o projeto Genoma Humano, novas interações moleculares estão sendo descobertas, o que poderá permitir tratamentos mais específicos e eficazes no futuro.

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